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  • Projeto Tatiane Spitzner

A construção do respeito e seu impacto em todas as relações | Artigo

08 de julho de 2020

Este texto faz parte da campanha ‘respeito é a base da transformação’, lançada pela Subseção no início de julho com o propósito de trazer reflexões para os profissionais sobre temas que permeiam o dia a dia de todos.

RESPEITO. Palavra esquecida e muitas vezes confundida com outra chamada AMOR. E em nome delas se praticam desde ações gloriosas até grandes atrocidades, como matar, por exemplo. Matar, no sentido amplo: matar a criatividade, as potencialidades de desenvolvimento de um ser desde sua infância, ao não lhe oportunizar seu desenvolvimento completo (físico, intelectual, moral e espiritual) em nome da ordem, da disciplina e da arbitrariedade.

A grande maioria de nós cresceu ou está crescendo ouvindo: “As coisas tem que ser como e quando eu quero porque sou seu pai, porque sou sua mãe, seu professor, seu…; Porque eu te amo e tudo o que faço é para o seu bem! Por isso exijo respeito! E em nome dele se você não fizer o que eu quero e como e quando eu quero você vai apanhar ou vai ficar de castigo”.

E assim vamos tirando nossas conclusões: “Então respeito é obedecer incondicionalmente a prepotência do outro, porque senão vou apanhar ou ficar de castigo”. Outra conclusão a que podemos chegar é que para obter respeito é necessário bater! Desqualificar o outro! Castigar o outro! Acostumo a respeitar apanhando! E concluo: “É assim que se educa!”.

Respeito porque tenho medo! Exijo respeito com prepotência porque não sei consegui-lo com a conversa, porque tenho medo de não obter respeito. Aí quando a criança vai e faz isso com o amiguinho, o adulto lhe diz: você não pode fazer isso! Você tem que respeitar seu amiguinho!

Ora! Ora! Ora! Quem entende?

O respeito demonstra um sentimento positivo por uma pessoa ou para uma entidade e também ações especificas e condutas representativas daquela estima. Respeito também pode ser um sentimento específico de consideração pelas qualidades reais do respeitado.

Origem da palavra: Latim RESPECTARE: que significa olhar para trás várias vezes. Pessoa respeitosa dedica um olhar atento as ações que ela percebe, principalmente no que diz respeito as relações humanas. Se juntamos as palavras RESPECTARE com a palavra REFLECTERE, que significa voltar para atrás (pensar sobre o fato observado), ou seja, uma percepção da realidade, mais atenta, refletida e ponderada.

O respeito tem uma relação direta com a estima que temos pelas pessoas. Pensar em respeito significa pensar em acatamento, tolerância, dignidade no tratamento aceitando o outro como ele é, independente de origem, etnia, valores por ele defendidos ou, ainda, na situação que ele vive. O que importa é que a pessoa precisa ser tratada com dignidade. A dignidade humana é um valor extremamente importante que só pode ser colocado em prática através do respeito. Neste sentido, é preciso tomar decisões, tais como de respeitar os sentimentos das pessoas, aprender a ouvi-las para estabelecer uma relação de proximidade e, consequentemente, quando há o respeito, há fortalecimento de laços que favorecem uma convivência humana muito melhor graças ao surgimento da fraternidade, da convivência como irmãos baseada no vínculo do amor – e não do poder. Para tanto, é necessário conhecer as pessoas, respeitar seus sentimentos, controlar nossas reações para que o ambiente ao nosso redor seja mais leve, saudável e até, quem sabe, feliz.

Por isso o respeito é uma virtude moral importantíssima que não pode faltar de modo algum nas relações que estabelecemos em nosso cotidiano.

Ao questionar um cliente de nove anos, sobre como ele gostaria de ser tratado, Eric Berne criador da Análise Transacional recebeu a seguinte resposta:

Se me tocar leve e suave,
Se me olhar e sorrir,
Se algumas vezes me ouvir antes de falar,
Vou crescer, realmente vou crescer”. Bradley (9 anos).

A comunicação não violenta está alicerçada no respeito. Respeito também pela história do outro, pelas suas dores e suas cicatrizes. O que significa evitar estar o tempo todo cutucando a ferida ou a cicatriz do outro. É necessário aceitar incondicionalmente todos os aspectos que integram a identidade da pessoa com a qual estamos interagindo, convivendo.

Você já se perguntou o que tem feito para trabalhar as grandes dificuldades internas para conviver com quem é diferente de você? Ou com quem tem contato direto com você?

Nosso grande laboratório de experiencias é nosso lar. Com amostragens bem amplas, de relações entre irmãos diferentes, criados pelo mesmo pai e mãe, porém que se manifestam de forma única; relacionamento entre pais e filhos, entre marido e mulher e outros tantos.

Encontramos uma profunda dificuldade para estabelecer um padrão de relacionamento fraterno, de respeito as diferenças. Muitas vezes ficamos a olhar as cenas e não participamos da transformação, uma vez que nosso orgulho e egoísmo nos impedem, nos tornam incapazes de respeitar o outro.

Dalai Lama dizia que são necessários 3R para desenvolver o respeito: O primeiro R é o do Respeito por si mesmo. Porque quem não se respeita não tem capacidade nenhuma de respeitar o outro. Nele há sempre uma demanda de exagero na agressão ou no pedido de socorro, porque não olhou para si com um olhar de misericórdia, amor e de respeito. O segundo R é o do Respeito ao próximo e, para tanto, é necessário experimentar em mim, o que sinto por mim, para poder compreender o que sinto pelos outros. E o último R, o da Responsabilidade pelas nossas ações a plena consciência do mal que posso provocar a mim mesmo e aos outros. Se praticássemos os 3Rs, poderíamos ter uma vida social mais harmônica.

Nossa primeira experiencia social se dá no núcleo familiar e é nele que entramos em conflito por uma mínima discordância na forma de fazermos a leitura da realidade.

Já avançamos muito, porém basta um mísero estímulo para nos transformarmos e nos tornarmos violentos. No passado, as bandeiras sustentadas hoje, nas esquinas por defensores de partidos políticos, eram lanças que seriam espetadas, arrojadas no coração do outro. Hoje é só uma representação de como já fomos mais destruidores e beligerantes. Mas se lhes dermos estímulo volta tudo de novo. Por isso a necessidade de estarmos vigilantes, tanto em nós, como na sociedade. Enquanto nos digladiamos com isso, a fome continua, as pessoas se matam, violentam, suicidam, viciam. Famílias se destroem pelo egoísmo de alguns e pela ilusão de outros. Vemos em todos os cantos o desespero, a infantilidade, a angústia.

Quantas vezes somos indiferentes perante as situações que presenciamos e não queremos assumir que passamos por elas. Quantas vezes justificamos “eu não tenho nada a ver com isso, isso não me pertence, agora não posso parar, estou com pressa, atrasado”… Criamos e esculpimos uma serie de justificativas para nos livrarmos do sentimento de culpa por não agirmos.

E quando eu cair, como quero que se aproximem de mim? Para me acusar, passar de lado ou para me ajudar?

A lei é clara! O que plantamos, colhemos! Procuramos aceitar ao nosso redor aqueles que leem a cartilha da vida pelo nosso ponto de vista. Eu gosto de você, porque você gosta de mim; porque você gosta do que eu gosto; se assim não for, você é diferente e não serve para mim, é esquisito, é exótico.

Conduta moral exige renovação constante. Enxergar o outro além do que ele representa para a gente nos faz alcançar o coração de quem está caído, mas se o preconceito me enturva eu não me aproximo.

Precisamos decidir a todo o momento se queremos ficar na acomodação do “não consigo” ou na ação e fazer o que deve ser feito. Para tanto, é necessário romper a concha do egoísmo na qual nós fechamos. Como que querendo fugir da responsabilidade de agir. Precisamos aprender a nos ligarmos afetivamente ao outro não pela servidão afetiva com que se ligam ao nosso roteiro pessoal, mas pela fidelidade com que se norteiam em favor do bem comum. O excesso de criticidade em relação ao outro não me permite vê-lo em sua totalidade e consequentemente eu não me vejo e me torno incapaz de me responsabilizar sobre ações (Dalai Lama), como não me amo, torno-me incapaz de amar alguém. Por isso é necessário me priorizar. Preciso me enxergar para poder me levantar, porque enquanto estiver no chão, ninguém vai me levantar.

Precisamos buscar fazer a diferença sem medo, corrigindo em nós e denunciando todo e qualquer comportamento violento. Reforma íntima gera reforma social, e consequentemente, respeito.

Susana Raurich
Coach Psicoterapeuta