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Em Maringá, Edni Arruda fala sobre participação das mulheres na advocacia

26 de março de 2018

(Foto: OAB Paraná/Divulgação)

A Conferência da Mulher Advogada, realizada em Maringá no último final de semana, teve um de seus pontos altos com a palestra da advogada e Conselheira Federal, Edni de Andrade Arruda. Ela abriu os trabalhos do segundo dia do encontro. A vice-presidente da OAB Guarapuava, Maria Cecília Saldanha, também esteve no evento.

Maria Cecília Saldanha e Edni de Andrade Arruda (Foto: arquivo pessoal)

Entre os assuntos abordados por Edni em sua palestra, ela falou sobre a presença maciça de mulheres nos cursos de Direito. Falou também sobre se declarar feminista, “de carteirinha, crachá e sindicalizada”. Para a guarapuavana, é de um primarismo atroz o comportamento das mulheres que têm receio de se declarar feministas, mas ressalva: “O feminismo que defendo não é raivoso. A moda agora é dizer que somos poderosas e especiais. Abomino isso. Precisamos ser vistas dentro da nossa humanidade. O que nos define é nossa imperfeição. Esse discurso retira nossa humanidade, nossa fragilidade, nossas angústias. Olhemos em volta. Somos diferentes, mas temos algo em comum: queremos um mundo melhor. Como disse (a presidente da OAB Alagoas) Fernanda Marinela: não queremos muito, queremos metade da mesa”.

Em sua fala, Edni falou ainda sobre reconhecimento, o que para ela não é uma conquista, mas sim, um direito. Ela se considera uma pessoa de sorte por ter nascido em uma família que dá valor extraordinário à educação e à cultura e por ser filha de um “pai feminista”.

“Faço essa digressão para dizer que mulher já foi considerada a própria encarnação do pecado e no período menstrual ainda hoje, em algumas culturas, é considerada impura”, lembrou, listando definições do que é ser mulher para autores cristãos: Tertuliano dizia que a mulher era a porta do diabo. Santo Ambrósio e São João Crisóstomo também fizeram afirmações desse gênero. Entre os gregos, Arquíloco escreveu só há dois dias na vida em que a mulher dá prazer: no dia de núpcias e no dia do enterro dela. Schopenhauer associava as mulheres com “instintiva velhacaria” e tendência à mentira.

“Para ele, era mulher criatura de cabelos longos e ideias curta. Um fofo! A obra filosófica é maravilhosa, mas conseguiu falar essas sandices. Balzac não fez por menos ao dizer que o destino da mulher e sua única glória é fazer bater o coração dos homens”, pontuou Edni.

POSICIONAMENTO

Em sua fala, a advogada, pioneira da advocacia guarapuavana, considera que dentro da OAB ainda se vê muito comodismo.

“Sei que é difícil. Minha vida toda foi arrebentando portas. Não a pontapés, mas com muita insistência”, contou.

Ela considera que a instituição só será grande de fato se tiver também a participação feminina.

“Vimos ontem: hoje só temos na Ordem uma mulher dirigindo uma seccional”, lembrou, para, em seguida, relatar que passou dez anos trabalhando só com homens.

“Abrir a boca é fácil, mas participar, tomar para si tarefas, é para poucas. Temos, sim, de buscar apoio para essa causa”, recomendou. Sem a participação sensível e solidária dos homens, alertou, a batalha pela igualdade está fadada ao fracasso.

Edni também acha que as mulheres têm de renunciar ao papel de refém da família, lembrando que os países de alto desenvolvimento humano são aqueles em que a responsabilidade pela criação dos filhos é paritária. O Brasil, disse ela, sofre da volúpia do recurso e da legislação.

“Não precisamos de leis, estamos confortavelmente amparadas por leis. Na Ordem, queremos a metade da mesa, como disse a Fernanda Marinela. Espero viver esse dia. Que esse apelo encontre eco no coração de vocês. Se integrem e se entreguem à Ordem dos Advogados do Brasil”.

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